O rio de Lula que afeta Brasília de JK sem passar por lá
João Costa |
João
Costa*
Traçar comparativos entre períodos da
História e seus acontecimentos é uma temeridade, mas as circunstâncias do
momento forçam a memória para algumas pinceladas no quadro atual da política,
que é negro, sem que esta expressão remeta à apologia de racismo, hoje tão
presente na vida nacional o quanto sempre foi – ou mais. Direto ao ponto: A
transposição das águas do Rio São Francisco está para Lula assim como Brasília
está para JK.
Esse paralelo serve para compreender a
dimensão e grandiosidade de cada uma dessas duas obras e muitas outras. A
Transposição, para não abstrair a corrupção, tema hipócrita atualmente a
empolgar a Nação, pela sua demora e custo, evidentemente tem suas sangrias de
dinheiro público, assim como Brasília é mãe da corrupção política como
conhecemos hoje, uma suruba (sugestivo termo utilizado pelo senador golpista
Jucá, que atende pela alcunha de Caju na lista da Odebrecht) entre governantes,
políticos e
Incrível como as mesmas mentiras que hoje a
mídia nativa e golpista propaga contra Lula, são idênticas as assacadas contra
Juscelino Kubitschek. Não esquecendo que o timoneiro que construiu Brasília
hoje se sabe que morreu em um “estranho” acidente. Lula já conta seus mortos a
partir de dentro da sua casa, e não está livre do mesmo destino de JK.
Mas escrever sobre o legado de Lula
tomando apenas a transposição das águas do Velho Chico seria até injusto com
ele, pois a transposição está para Lula, assim como abrir caminho para inclusão
social de milhões de miseráveis, prosperidade econômica, amor à soberania do
país e autoestima do povo – esse eterno personagem da Servidão Voluntária.
Diverte-me assistir a tentativa de
apropriação política dessa obra pela malta de salteadores da democracia. Têm
explicações mil. A transposição virou uma oportunidade política para muitos.
Para o senador Cássio, inclusive.
O
senador precisa, e muito, de mídia positiva, para que possa retomar seu projeto
– legítimo – de retornar ao Palácio da Redenção, e está dando passos para isso.
Mas nadar nas águas da transposição chega a ser um nonsense. Cássio hoje é uma
estrela dessa constelação de centro-direita que se transformou o PSDB.
Pesa contra seu histórico político, descasos
irreparáveis para com a questão hídrica do estado que governou por duas vezes.
Quando da inauguração da Barragem de Acauã, isso lá em 2002, projetada
inclusive para abastecer Campina Grande, uma tremenda reação política emergiu
na cidade contra a iniciativa.
O
governo era de José Maranhão, um bom motivo para a reação contrária dos
políticos de Campina, a ponto de escalarem um clérigo católico da cidade que foi
para a TV falar a plenos pulmões que as águas de Acauã eram impróprias para
consumo humano, pois para lá a população de Campina despejava seus esgotos.
Imaginem, que naquela altura os canos da
tubulação já estavam disponíveis na beira do Caminho. Evidente que o governador
que sucedeu Maranhão foi justamente o de Cássio, e que arquivou a adutora
Acauã-Campina.
Em 2004 foi à vez da barragem de Camará,
que se rompeu no primeiro inverno por conta de uma falha na construção. Não tem
como esquecer que o secretário de Recursos Hídricos do governo Cássio, Marilo
Costa, e um engenheiro da Suplan, fiscal da obra, foram a júri pela morte das
cinco pessoas naquela tragédia, que deixou centenas de desabrigados e prejuízos
imensos. O governo foi responsabilizado pela Justiça por incúria e a empresas
condenadas à reconstrução.
Lembro que o candidato seguinte a
governador da Paraíba, Ricardo Vieira, durante entrevista, foi peremptoriamente
contra a reconstrução de Camará – até aparecer dinheiro novo do Governo Federal
para a reconstrução, que foi feita recentemente.
Não esquecendo os egos da política
paraibana estavam tão inflados, que muitos festejaram a tragédia por
supostamente representar dividendos políticos. Vi de perto a força-tarefa
montada em socorro aos atingidos pelo infortúnio - que festejava muito mais que
lamentava ou tomava medidas em defesa dos desabrigados.
É água de menos para afogar tanta
demagogia.
*João Costa é radialista, jornalista e diretor
de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica. Atualmente, é
repórter de Política do Paraíba.com.br
O rio de Lula que afeta Brasília de JK sem passar por lá
Reviewed by Clemildo Brunet
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3/06/2017 11:11:00 AM
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