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Do Carpe Diem à Câmara Federal

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

Por sermos uma nação jovem, recebo alguns legados culturais dos povos antigos. Na nossa religiosidade e padrões éticos tivemos influencia direta do judaísmo, daí o monoteísmo cristão, na área científica e filosófica a participação dos gregos, com seus ensinamentos divididos em 2 períodos de luzes como o cosmológico, sistematizado por Homero, nas suas obras Ilíada e Odisseia  períodos tidos como “Tempos Homéricos”, ocorrido até os anos 1000 a.C. destaque para os pensadores como: Tales de Mileto, Pitágoras, Anaxágoras, Empédocles, Zenão, Heráclito e
Parmênides.

O período antropológico quando a democracia atinge seu auge com Sócraes, Aristóteles e Platão.
E nas organizações administrativas e políticas copiamos os romanos. Infelizmente, dentre tantas coisas boas que eles nos ensinaram tivemos uma herança maldita que foi o Carpe Diem. Não no sentido poético do grande, Horácio, Quinto Horácio Flaco (65 a.c/8 a.C), mas, as ações incorporadas e imputadas ao povo romano no período do império romano do ocidente, em decadência, até o seu fim, com a queda do último imperador, Rômulo Augusto, em 476 d.C. Carpe Diem, era a razão de viver no limite da exaustão, aqueles que se sentira sem presente e sem futuro, prevalecia a necessidade de ficar o tempo todo, durante todo tempo como se estivessem vivendo o último dia, quando a soberba, a promiscuidade e a vaidade prevaleciam no sentimento humano, e o ter passou a ser mais importante que o ser.

Acompanhando os últimos acontecimentos nessa semana que se encerra politicamente, fui remetido ao período do Carpe Diem romano, principalmente pelas degradantes e lamentáveis cenas ocorridas dentro do plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Tudo começou com o envio do executiva para o legislativo da medida provisória (MP) 595/2012, denominada como MP dos Portos, tratando do retorno e novos critérios para a exproração e arrendamento, privatização, com prazos e renovações contratuais automáticos e determinados, para a iniciativa privada, de terminais de movimentação de cargas nos atuais portos públicos. Com as modificações impostas pelo Executivo Nacional, a MP inicial que teve como relator o senador, Carlos Eduardo de Sousa Braga, Eduardo Braga (PMDB/AM), da base aliada; um outro componente da mesma base aliada, o deputado e líder, Eduardo Cosentino da Cunha, Eduador Cunha (PMDB/RJ), encabeçou mudanças no texto gerando mal-estar generalizado dentro dos partidos de apoio ao governo cental.

O ápice do absurdo foi o bate boca, na madrugada do dia 14, entre o ex-governador do Rio de janeiro e deputado, Anthony William Matheus de Oliveira, Anthony Garotinho (PR/RJ), e o líder do PMDB, Eduardo Cunha. Os adjetivos usados para tratamento da MP 595/12, foram deprimentes, marcado ficou, e ficará, como a MP dos porcos. Dúvidas foram levantadas, acusações de liberações de verbas, por parte do governo, para agradar e atrair votos de deputados, da base aliada, não dispostos à votarem favoravelmente na MP. Depois de 18 horas de sessão os trabalhos foram encerrados com retorno previsto para o dia seguinte (15), pois faltava aprovação das emendas.

Finalmente, decorridos mais de 20 horas de trabalho, já manhã do dia 16, ontem, a MP e suas emendas, aprovadas, seguiram para o senado sem antes protagonizar novas cenas de constrangimento dentro da  Câmara dos Deputados, com novo bate boca entre o mesmo Anthony Garotinho (PR/RJ) e o pecuarista, médico, deputado federal e líder do seu partido, Ronaldo Ramos Caiado,  Ronaldo Caiado (DEM/GO); agora as acusações extrapola o campo político e o tema recorrente àquela sessão, entrando no pessoal, sendo o deputado Garotinho acusado de quadrilheiro no seu Estudo, por ações de governo, na sua gestão quando governador, e condenado em primeira instância, fatos refutados pelo acusado.

Senado Federal, mesmo dia (16), ontem, começa novas cenas de acusações, agora com adjetivos amenos, porém mais contundentes, os partidos de oposição não tiveram o direito de debater a mesma MP 595/12, que necessitava ser aprovada até 23.59 horas.

Com a impossibilidade de argumentos, pela amordaça imposta pelo presidente daquela casa, alegando regimento inerno, apesar do constrangimento que ele estava sentido e apoiado pela mesa diretora. Três senadores, Randolph Frederich Rodrigues Alves (PSOL-AP), José Agripino Maia (DEM-RN), Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB-SP), recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de anulação da votação da MP dos Portos no senado.

Com o transcorrer das horas a famosa MP 595/12 foi finalmente aprovada pelo senado federal, num parto à forceps, dolorido e maculado, na opinião dos opositores. Paralelamente o pedido de anulação daquela votação era negado pelo ministro, José Celso de Mello Filho, no STF.

Tudo isso que ocorreu no nosso legislativo não teria ocorrido caso os nossos políticos se comportassem com humildade, amor à pátria, respeito e ética, sem objetivos escusos e ações transparentes. Até mesmo para aprovar uma MP de suma importância para o nosso país, o governo se mete nos trabalhos do congresso, através de ministros tidos como articuladores, e transforma a ato num espetáculo danoso para os bons costumes.

A impressão que fica é que o nosso modelo político passa por uma operação de desmanche, a promiscuidade política é tamanha que as prerrogativas do nosso congresso já não existem mais, hoje, legislar passou a ser uma tarefa também do executivo, impondo suas vontades e desejos ao legislativo, que inebriado pelos favores e concessões do governo central, tudo faz e nada impedido, pois nada pode fazer, é conivente com o descaminho avassalador; as MPs acontecem como se fossem regras e não exceções.

A máquina governamental cresce em direção ao absurdo, já temos 39 ministérios e 40 ministros, o ministro da propaganda midiática, atua sem ministério específico, com trânsito livre entre os demais, com uma atuação impressionante, tendo o melhor desempenho dentre eles. É a propaganda enganosa, tudo é marketing, Para o brasileiro que não sabe e não tem para onde ir qualquer caminho serve, até o do descaminho e da desesperança!

*Poeta e escritor*

Do Carpe Diem à Câmara Federal Do Carpe Diem à Câmara Federal Reviewed by Clemildo Brunet on 5/17/2013 07:22:00 AM Rating: 5

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